No processo de empreendedorismo, quase metade das Startups falha no erro mais recorrente de todos: processo de Validação ausente ou incompleto. As causas estão tanto na tecnologia quanto nos processos emocionais. Será que podemos explorar causas emocionais ainda mais profundas, que talvez não tenham sido abordadas, para compreendermos e lidarmos melhor com esse erro? Meu objetivo neste breve texto é apontar o que me parecem ser algumas das causas mais profundas para o erro mais recorrente do empreendedorismo.
No artigo “O maior erro de uma Startup e a primeira grande lição aprendida com ele” (weblink), vimos que a primeira etapa de qualquer Startup se chama Validação, e implica na comprovação/refutação de hipóteses que se materializam em pesquisas aplicadas ao público-alvo, além do uso de outras ferramentas específicas. Na prática, validar não é uma tarefa simples, é muitas vezes um processo iterativo, mas vale a pena dedicar muita energia nessa fase, pois é a mais crítica do processo.
Já vi vários empreendedores acreditarem muito em suas ideias, o que é essencial, porém acabaram deixando essa crença cegá-los a ponto de não fazerem verificações sistemáticas antes do lançamento de um novo produto ou serviço. Vulgarmente, no ecossistema empreendedor, chamamos a isso de “apego” ou “paixão” pela ideia.
Já vi vários empreendedores acreditarem muito em suas ideias, o que é essencial, porém acabaram deixando essa crença cegá-los … no ecossistema empreendedor, chamamos a isso de “apego” ou “paixão” pela ideia.
Mas por que essa dificuldade acontece?
A Validação é a etapa mais difícil porque também envolve processos emocionais, e muitos empreendedores têm dificuldade em enfrentar essa fase por conta das Idealizações. Na Idealização, atribuímos ao empreendimento qualidades de perfeição, percebendo-o como que possuindo somente características positivas e, dessa forma, podemos nos tornar reféns emocionais deste projeto. Ou seja, não percebemos os defeitos, problemas e dificuldades do empreendimento.
É na etapa de Validação do processo de empreendedorismo que esses processos emocionais começam a ser testados; nesse contexto, levantei algumas situações que pude observar com alguns empreendedores.
Por um lado, existe a ilusão da autossuficiência. A gente se engana mesmo — tem a impressão de que é capaz de fazer tudo sozinho. Tendemos a acreditar que somos capazes de avaliar todas as perspectivas apenas com a nossa própria visão, sem ajuda e sem equipe.
Por um lado, existe a ilusão da autossuficiência. A gente se engana mesmo — tem a impressão de que é capaz de fazer tudo sozinho.
Como exemplo de minha própria experiência profissional, trabalhei com projetos de software por muito tempo, e estimar tempo e esforço necessários para realização de tarefas e atividades é algo extremamente difícil de dominar ─ leva tempo para se adquirir experiência no assunto.
Programadores novos tendem a subestimar suas atividades e acabam estourando os prazos com frequência. Ou seja, eles têm a ilusão de que são capazes de fazer mais coisas do que realmente conseguem realizar.
Existe também o efeito Dunning-Kruger, que podemos somar à ilusão da autossuficiência. Trata-se do fenômeno pelo qual pessoas que possuem pouco conhecimento sobre um determinado assunto acreditam saber mais que especialistas na área, fazendo com que tomem decisões incorretas e cheguem a resultados ruins. A figura a seguir ilustra esse Efeito:
Existe também o efeito Dunning-Kruger … trata-se do fenômeno pelo qual pessoas que possuem pouco conhecimento sobre um determinado assunto acreditam saber mais que especialistas na área, fazendo com que tomem decisões incorretas e cheguem a resultados ruins.
Por outro lado, muitas vezes temos medo. Como a ideia do novo negócio nasceu em nós, de nossa percepção, sentimento e visão de mundo, existe o medo de expô-la à crítica, pois está tudo conectado de maneira muito profunda à nossa essência. E é preciso coragem para expor as nossas ideias ao escrutínio, pois temos o temor da rejeição.
Por outro lado, muitas vezes temos medo. Como a ideia do novo negócio nasceu em nós, de nossa percepção, sentimento e visão de mundo, existe o medo de expô-la à crítica.
Existe também o medo de que a ideia possa ser roubada ou copiada. No mundo do empreendedorismo, há uma corrente considerável que acredita que todas as ideais devem sempre ser expostas à público e colocadas em discussão para que evoluam com maior velocidade. Entretanto, acredito que haja alguns casos muito específicos em que a ampla divulgação deve ser evitada; mas falar especificamente sobre isso requer outro texto.
Há um outro ponto importante também: muitas vezes, acreditamos que a nossa ideia é totalmente original, enquanto que, na realidade, outras pessoas têm ou já tiveram essa mesma ideia — o que vai diferenciar os vencedores é o que chamamos de Capacidade de Execução.
Existe também o medo de que a ideia seja roubada ou copiada… muitas vezes, acreditamos que a nossa ideia é totalmente original, enquanto que, na realidade, outras pessoas têm ou já tiveram essa mesma ideia — o que vai diferenciar os vencedores é o que chamamos de Capacidade de Execução.
Em minha opinião, essas seriam causas mais profundas que poderiam explicar os processos emocionais (não técnicos) que acontecem nas situações de Validação ausente ou incompleta. A Tabela 1, que não tem a pretensão de ser completa, resume os tipos de sentimentos que pude identificar no processo de Validação:
Para desenvolver seu pleno potencial, acredito que o empreendedor deve estar numa relação saudável consigo mesmo, com seu entorno, com as suas ideias e com as trocas que acontecem; nesse contexto, o processo de Validação muitas vezes evidencia dificuldades em lidar com suas emoções.
Essa é a atitude e postura que devemos esperar de um Empreendedor: não é simplesmente alguém que teve uma ideia, mas alguém que tem a capacidade de aprender e de ampliar seus horizontes.
Coloco meu texto à crítica dos profissionais da área de Psicologia para que possam julgá-lo e fazer comentários e adequações necessárias.
Escreverei sobre a parte técnica do processo de Validação num artigo futuro.